segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Macaúba [Acrocomia aculeata (Jacq.) Loddiges ex Mart.]

Esta é uma palmeira nativa de florestas tropicais, também conhecida no Brasil por bocaiúva, coco de espinho, macaúva, marcová e mucajá, os quais, sofrem variações nas diferentes regiões dos trópicos que desfrutam de sua beleza. Na Argentina, por exemplo, essa planta é chamada de Mbocayá, que deriva das palavras indígenas, “mboka”, que quer dizer, “que se quebra estalando”, e “ya” ou “já” (fruto), indicando árvore de frutos que estalam. O termo Acrocomia deriva do grego “Akron” (uma) e ”Kome” (cabeleira) sugere que as folhas estão dispostas no formato de uma coroa. Esta planta habita áreas abertas e com alta incidência solar, desenvolvem-se bem em solo fértil, bem adaptada às condições edafoclimáticas brasileira, com grande abundância no cerrado (Novaes, 1952; Henderson et al., 1995).
Esta espécie é classificada como pioneira e se destaca ainda por ser tolerante ao fogo, com potencial para a produção de óleo e outras vantagens como, proteger melhor o solo e a água, e pela possibilidade de ser utilizada em consórcio com outras espécies em sistemas agrosilvopastoril (Figura 1) (Henderson et al., 1995; Lorenzi, 1996; Missouri, 2005).




Figura 1. Maciço de macaúba [Acrocomia aculeata (Jacq.) Loddiges ex Mart.] em consórcio com gergelim e em área de pastagem no município de Goiás (GO), 2009.

CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS

A macaúba pode atingir de 10 a 15 metros de altura por 3 a 4 metros de diâmetro de copa (Figura 2a). As folhas são pinadas, verde escuro e possuem espinhos na região central, seu comprimento varia de 4 a 5 metros, com 130 folíolos.
As inflorescências são amarelas, dispostas em pequenos cachos com no máximo 80 cm de comprimento, protegidos por uma espata, de tamanho variado, que pode atingir até 2 metros de comprimento (Figura 2b). Suas flores são pequenas, unissexuais, e ambos os sexos estão juntos na mesma inflorescência, mas, as flores masculinas ficam no topo da inflorescência (Silva et al., 2001).
Os frutos (Figura 2d) são esféricos ou ligeiramente achatados, em forma de drupa globosa, com diâmetro variando de 2 a 5 centímetros e possuem de uma a três sementes (Figura 2c). O epicarpo, fino, rompe-se facilmente quando maduro. O mesocarpo é fibroso, mucilaginoso, de sabor adocicado, rico em glicerídeos, de coloração amarelo ou esbranquiçado, comestível. O endocarpo enegrecido é fortemente aderido ao mesocarpo. À amêndoa é oleaginosa, comestível e coberta por uma fina camada de tegumento (Lorenzi, 1996; Silva et al., 2001; Nucci, 2007).



Figura 2. Características morfológicas de macaúba [Acrocomia aculeata (Jacq.) Loddiges ex Mart.]: a) Vista geral, ± 30 anos de idade, no município de Montes Claros de Goiás (GO); b) Inflorescência de macaúba; c) Cacho com frutos imaturos de macaúba; d) Vista longitudinal de fruto aberto de macaúba, detalhe para mesocarpo (polpa, branco-amarelada), endocarpo (rígido e enegrecido) e sementes. Montes Claros de Goiás (GO), 2009.

Segundo Chuba et al. (2008) e Ramos et al. (2008), uma planta pode produzir de 3 a 6 cachos por ano com média de 800 frutos por cacho, o que garante a dispersão dessa planta. Em um fruto inteiro há 42% de polpa (mesocarpo), e o epicarpo (casca) corresponde a 20%. O restante é formado pelo diásporo, sendo 31% de endocarpo e 7% de sementes, cujo teor de óleo varia de 20 a 30% (Silva, 1994).

ORIGEM E DISPERSÃO DA ESPÉCIE

Esta planta possui ampla distribuição geográfica, podendo ocorrer em todo o Trópico Americano, do México à Argentina, na Bolívia, no Paraguai e Antilhas, exceto Equador e Peru. Preferencialmente, habita regiões com estação chuvosa bem definida e de altitudes moderadas. Tal seletividade justifica o fato de existir, dento do gênero Acrocomia, uma espécie endêmica a região de cerrado (Acrocomia hassleri (Barb. Rodr.) Hahn. (Henderson et al., 1995).
Sua área de distribuição tem sido fortemente influenciada pelas atividades humanas. Na Costa Rica, foi introduzida pelos índios na época pré-colombiana, no México e América Central pelos maias (Henderson et al., 1995). No Brasil, é considerada como a palmeira de maior dispersão, com ocorrência de povoamentos naturais desta espécie em quase todo território. Entretanto, as maiores concentrações estão localizadas em Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sendo amplamente espalhada e utilizada pelos povos do cerrado (Figura 3) (Bondar, 1964; Silva, 1994; Henderson et al., 1995).



Figura 3. Distribuição espacial da espécie Acrocomia aculeata (Jacq.) Loddiges ex Mart. em 53 localidades entre os 376 levantamentos realizados no cerrado. Adaptado de Ratter et al. (2003).

UTILIZAÇÕES
As palmeiras em geral servem de alimentação à vida silvestre, o que faz dessas plantas de considerável importância do ponto de vista ecológico (Lorenzi et al., 1996; Negrelle et al., 2003). Nesse sentido, a macaúba se destaca pois, além de contribuir com o ecossistema, possui grande produção de frutos, alto teor de óleo nas amêndoas, com potencial para produção de biodiesel, e com isso podem proporcionar inclusão social, servir de apoio a agricultura familiar e ser uma fonte de renda alternativa a pequenos produtores (Holanda, 2004). Levando em consideração a região do pantanal matogrossense, Lorenzi (2006) identificou nove categorias de utilizações totalmente extrativista da macaúba (Tabela 1).

Tabela 1. Utilização de diferentes partes de Acrocomia aculeata (Jacq.) Loddiges ex Mart., obtidas em levantamento etnobotânico realizado em comunidades no estado de Mato Grosso de 2002 a 2004. Adaptado de Lorenzi (2006).


Segundo Rocha et al. (2008) a macaúba também é considerada como importante fonte de carotenóides e, por isso, pode contribuir com o enriquecimento da dieta regional em programas de suplementação alimentar. Possui em sua polpa 49,0 µg.g–1 de β-caroteno total, correspon¬dendo a cerca de 80% dos carotenóides totais encontrados na polpa. Devido o alto rendimento de produção de óleo da amêndoa, a macaúba pode se tornar a palmeira de maior importância comercial, pois ainda se extraem dos frutos 5% de farinha comestível e 35% de tortas forrageiras. O endocarpo possui alto poder calórico, com maior rendimento em carvão e menores rendimentos em gás não-condensável, quando comparado à madeira do eucalipto, porém, necessita de maiores temperaturas para atingir os padrões de qualidade semelhantes aos obtidos para o carvão de eucalipto (Silva et al., 1986; Silva, 1994).
Do ponto de vista socioeconômico, vem despertando interesse por sua produção de óleo vegetal, sendo esta a utilização mais promissora da macaúba, que nas atuais formas de produção, pode atingir 4 mil L.ha.ano-1. Em adicional, a produção do óleo realizada por agricultores familiares elevaria a demanda por esta planta e, conseqüentemente, promoveria o desenvolvimento socioeconômico em muitas regiões do Brasil, pois garantindo emprego e renda (Batista, 2010).
Diante dos benefícios econômicos, sociais e ecológicos que a macaúba oferece para a sociedade, fica evidente sua importância, necessitando da elaboração de políticas e manejos para que se realize uma exploração sustentável e produtiva. Assim, torna-se possível a utilização adequada dos maciços já existentes, ou de plantios comerciais a serem instalados, empregando as atuais tecnologias de cultivo que, de certa forma, necessitam de aprimoramentos para atingir o máximo de produção.


PLANTIO COMERCIAL

Atualmente o plantio é realizado com mudas obtidas de sementes coletadas em plantas sadias e bem desenvolvidas. O espaçamento varia de 8 a 10m entre plantas e 6m entre linhas, perfazendo um estande de 200 a 320 palmeiras.ha-1, com custo equivalente aquele necessário para o reflorestamento de eucalipto, que foi orçado no ano de 2004, no valor de R$ 703,02.ha-1 (Maurício, 2009; Silva et al., 2004).
Para ocorrer a primeira frutificação é necessário um período de 4 a 5 anos, que equivale em torno de 10% do tempo de produção dessa planta. Vale lembrar que, durante os 3 primeiros anos, pode-se realizar o plantio de outras espécies oleaginosas, o que implicaria na redução dos custos na implantação do macaubal (Bahia, 2010; Maurício, 2009).

TEOR DE ÓLEO E RENDIMENTO
A maioria das palmeiras é rica em óleo e, no caso da macaúba, suas amêndoas produzem rendimento de 20-30% de óleo, sendo que nas condições de plantio mencionadas, pode atingir 4 mil litros de óleo por hectare por ano. Comparando outras culturas (Figura 5), fica evidente sua vantagem, pois a soja (Glycine Max L. Merrill) produz 420 litros, o girassol (Helianthus annuus L.), 890 litros e a mamona (Ricinus communis L.), 1.320 litros (Nucci, 2007). Além do óleo, em um hectare inclui 1.200 quilos de carvão vegetal e 5.300 quilos de farelos para rações (Oliveira, 2006).


Figura 4. Comparação entre capacidade de produção de óleo vegetal de algumas oleaginosas (Nucci, 2007).

COLHEITA
A colheita dos frutos de macaúba tem sido realizada de forma extrativista e manual, com auxílio de uma haste de material e tamanho variado (Figura 6), necessitando de aprimoramentos, uma vez que essa tarefa requer muita mão de obra, e em alguns locais, pode atingir até duas colheitas por ano.


Figura 5. Coleta manual de cachos de macaúba [Acrocomia aculeata (Jacq.) Loddiges ex Mart.] com auxílio de haste de alumínio (6m), no município de Posse (GO), 2009.

TEXTO RETIRADO DE:

RUBIO NETO, AURÉLIO. SUPERAÇÃO DA DORMÊNCIA EM SEMENTES DE MACAÚBA [Acrocomia aculeata (Jacq.) Loodiges ex Mart.]. 2010. 53p. Dissertação (Mestre em Agronomia/Fitotecnia) – Universidade Federal de Goiás, Jataí – GO.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAHIA, REDE SUL. Palmeira Macaúba pode produzir biodiesel. Disponível em: http://www.redesuldabahia.org/index.php?option=com_contenteview=articleeid=106:palmeira-macauba-pode-produzir-biodiselecatid=57:agriculturaeItemid=76. Acesso em maio de 2010.

BATISTA, A. C. F. Biodiesel no tanque. Disponível em: http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./energia/index.htmleconteudo=./energia/artigos/oleo_vegetal.html. Acesso em maio de 2010.

BONDAR, G. Palmeiras do Brasil. São Paulo: Instituto de Botânica, São Paulo, 1964. n.2; p. 50-554

CHUBA, C. A. M.; MACHADO, M. A. G. T. C.; SANTOS, W. L.; ARGANDOÑA, E. J. S. Parâmetros biométricos dos cachos e frutos de bocaiúva. In. XX Congresso Brasileiro de Fruticultura. Vitória – ES. 2008.

HENDERSON, A.; GALEANO, G.; BERNAL, R. Field Guide to the Palms of the Americas New Jersey: Princepton University, 1995. p.166-167.

HOLANDA, A. Biodiesel E a Inclusão Social. Brasília: Câmara dos Deputados. 2004

LORENZI, G. M. A. C., Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. – Arecaceae: bases para o extrativismo sustentével. Curitiba, 2006, 156f. Tese (Doutorado em Ciências Agrárias) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.

LORENZI, H. Palmeiras do Brasil: exóticas e nativas. Nova Odessa: Editora Plantarum, p.1-20, 1996.

MAURICIO. Macaúba alternativa econômica para produção de óleos e tortas. Eldorado / MS: Rural Sementes Ltda. 2008.

MISSOURI BOTANICAL GARDEN. Acrocomia aculeata Disponível em: Acesso em: 16 out. 2005.

NOVAES, R. F. Contribuição para o estudo do coco macaúba. Piracicaba, 1952, 85 f. Tese (Doutorado em Ciências Agrárias) Escola Superior de Agricultura “Eça de Queiroz da Universidade de São Paulo”, Piracicaba.

NUCCI, S. M. Desenvolvimento, caracterização e análise da utilidade de marcadores microsatelites em genética de população de macaúba. Dissertação (Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical) do Instituto Agronômico. 2007.

OLIVEIRA, F. A. M. A produção de óleos vegetais de macaúba e seus coprodutos na região metropolitana de Belo Horizonte. In: 3º Congresso Brasileiro de Plantas Oleaginosas, óleos, Gorduras e Biodiesel, Varginha, 2006. CD-Rom.

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5 comentários:

  1. alguém pode me informar onde posso comprar 5.000 mudas de macaúba?

    grato

    Ivan Martins

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  2. Olá Ivan, dê uma olhada neste site, mudas de qualidade..
    Abç
    Aurélio (cerradonline)

    http://comprar-vender.mfrural.com.br/detalhe.aspx?cdp=57172&nmoca=culturas-sementes-pre-germinadas-de-macauba

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  3. Boa tarde Ivan,
    Para adquirir sementes pre-germinadas de macaúba e toda a assistencia tecnica entre em contato com a acrotech sementes e reflorestamento.www.acrotech.com.br

    Abç
    Francisco.

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  4. podese comprar en acrocomiasolutions.com

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  5. onde posso comprar óleo de macaúba para pesquisa em universidade

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